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quarta-feira, 27 de abril de 2016

O MINISTÉRIO DE UM APÓSTOLO

 Vamos ver as principais características de um ministério apostólico. Vejo três aspectos principais:
 
 1 – INICIATIVA. 
Um apóstolo exerce um ministério iniciador. Ele expressa iniciativa não humana, mas divina. Deus usa o apóstolo para realizar seus próprios começos no desenvolvimento do plano da salvação. Vemos isto quando os doze foram enviados. A iniciativa de alcançar as cidades de Israel com o evangelho do reino de Deus não estava com a multidão dos discípulos em geral, mas com os doze apóstolos particularmente. Foram eles os primeiros a sair pregando o reino de Deus. Mais tarde, vemos que ele designou mais setenta, porém foram os doze quem tomaram a iniciativa.


No Pentecoste foram os apóstolos que tomaram a iniciativa de interpretar o acontecimento. Lucas diz que Pedro se levantou com os onze. Mais tarde quando as multidões viram a Pedro e ao resto dos apóstolos dizendo: "Que faremos?", foram os apóstolos quem deram a resposta, apesar de 120 pessoas terem sido cheias do Espírito.


Na evangelização dos gentios foi um ministério apostólico que rompeu a barreira de separação entre o judeu e o gentio, barreira essa construída através de séculos de tradição. Pedro diz: "Deus escolheu que através de minha vida, os gentios ouvissem". Foi o apóstolo Pedro quem introduziu uma nova fase no programa divino de salvação e mais tarde seu ministério foi seguido e ultrapassado pelo ministério do apóstolo Paulo. O ministério apostólico toma o primeiro passo no programa de Deus, o primeiro passo numa nova direção, numa nova dimensão. Paulo estava resoluto a pregar Cristo onde ele ainda não havia sido pregado. Ele queria ser o iniciador, ele queria ser o primeiro.


A uma diferença de iniciador e pioneiro, o ministério necessário ainda é apostólico. Por exemplo, podemos ir a muitas cidades e povoados em nossa terra hoje e encontrar sinais de que o evangelho já fora pregado ali. Há igreja; salvação se encontra ali. Mas ainda pode haver um ar de morte prevalecendo no lugar. Faz-se necessário um ministério apostólico para reconquistar a iniciativa para Deus. Esta é uma função apostólica. É Deus usando o apóstolo para tomar a iniciativa a fim de que seus propósitos de salvação possam fluir novamente entre os homens e as mulheres.

2 – LANÇAR FUNDAMENTOS.

Em segundo lugar, o ministério apostólico é lançar fundamentos. Este é mais um passo além da iniciativa. Algumas pessoas, depois da iniciativa, a direção da ação é determinada puramente pelo acaso. É bom ter pessoas iniciando alguma coisa, mas o apóstolo, além de saber iniciar, sabe também assegurar que os propósitos de Deus atrás daquela iniciativa sejam realizados. O apóstolo leva os propósitos de Deus a serem demonstrados visivelmente, e assim o alvo é alcançado, e a missão é cumprida. Esta diferença pode ser vista no caso de Filipe. Filipe saiu com uma mensagem poderosa e almas foram salvas, mas parecia estar faltando alguma coisa nos convertidos - algo que Filipe sozinho não pôde suprir. É somente quando os apóstolos levam estas pessoas para uma experiência no Espírito, e batizam-nas no corpo de Cristo, que há uma igreja. Aí está a diferença: alguém pode tomar iniciativa, mas é preciso também saber colocar os alicerces.


O apóstolo não somente colocava os alicerces, mas ele mesmo era o alicerce. São os próprios apóstolos que são dados à igreja, não somente seus ministérios. Eles mesmos são o dom de Deus e os fundamentos. Vemos isto em Mateus 16:16-18. Algumas pessoas são tão ansiosas para provar o erro dos Católicos Romanos que chegam a afirmar com toda certeza que a pedra é a confissão de Pedro e de maneira alguma pode ser o próprio Pedro. Creio que precisamos dar o devido valor a Pedro. Parece-me que o Senhor está dizendo que não só a confissão de Pedro, mas o próprio Pedro, faz parte do alicerce da igreja.


Paulo nos dá uma interpretação de Mateus 16 em Efésios 2:19, onde ele se refere à casa de Deus sendo edificada no alicerce dos apóstolos e profetas, sendo Cristo Jesus a pedra principal de esquina. Em sua visão da nova Jerusalém, João viu os doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos. O próprio Paulo pôde falar daqueles que eram colunas  da igreja em Jerusalém - Cefas, Tiago e João. Eram homens que havia subido a um lugar de importância e preeminência unicamente porque Deus havia colocado um peso e uma responsabilidade sobre eles. Deus os havia feito alicerces e a obra dependia deles.


Não podemos apoiar o domínio de um só homem ou perpetuar um sacerdócio denominacional. Nem enfatizar tanto o sacerdócio dos crentes que se torne impossível os líderes surgirem, e os apóstolos serem reconhecidos, e os homens de Deus se tornarem alicerces da igreja. Em alguns lugares tornamo-nos tão ansiosos para fugir dos cultos à personalidade que quando um homem começa a aparecer e se torna óbvio que a obra está sendo edificada em volta dele, nós imediatamente queremos reduzi-lo a tamanho normal. Talvez Deus queira levantá-lo um pouquinho mais, por amor a Sua igreja.


O apóstolo também sabe como construir nos alicerces e como estruturar a igreja. Há um paralelo maravilhoso entre Mateus 16 e 1 Coríntios 3:9, onde temos uma referência ao edifício de Deus. Depois no versículo 10 diz: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor". Jesus disse: "Sobre esta pedra edificarei minha igreja". E Paulo diz: "Lancei o fundamento como prudente construtor". Seu ministério é um com o ministério de Jesus. Mas ele não está preocupado somente em lançar o alicerce; ele se preocupa igualmente com aquilo que é edificado sobre ele. "...e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica".

3 – CORREÇÃO DE FALSAS DOUTRINAS

A terceira característica do apóstolo é seu ministério de corrigir falças doutrinas, supervisionar. "Porque está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu encargo" (At 1:20). A palavra para encargo é episkope, a mesma palavra que podemos traduzir em outro lugar pela palavra "bispo". Tome outro o seu episcopado. Esta palavra já era muito significativa na época em que foi escrito o livro dos Atos dos Apóstolos. É usada na Septuaginta, em Números 7:2, onde há uma referência aos príncipes de Israel que presidiam ao censo. Também em Números 4:16: "Eleazar, filho de Arão, o sacerdote, será supervisor, terá a seu cargo o azeite da luminária, o incenso aromático, a contínua oferta dos manjares e o óleo da unção, sim, será supervisor de todo o tabernáculo, e tudo o que nele há, o santuário e os móveis".


O livro de Reis se refere aos superintendentes da casa do Senhor, cujo cargo era receber o dinheiro recolhido para reparar e reconstruir o templo e distribuí-lo aos carpinteiros e pedreiros e a todos que trabalhavam na casa do Senhor para restaurá-la. Neemias escreve sobre o superintendente dos levitas. Os judeus então já estavam familiarizados com esta expressão. Eles sabiam que a superintendência era uma função dos príncipes ou líderes de Israel, e uma função daqueles que tinham um cargo sobre á casa de Deus.


É esta mesma ideia que é desenvolvida no uso do termo no Novo Testamento. "É necessário, portanto, que o bispo... governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito; pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?" (1 Tm 3:2-5). "Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós... pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer; ...nem como dominadores dos que vos foram confiados" (1 Pe 5:1-3).


Nestas duas referências vemos o piskope no seu ambiente local. O apóstolo funciona na capacidade de um presbítero para a igreja universal, enquanto o presbítero (líder local, pastor) se limita a uma localidade. O apóstolo é enviado com aquele mesmo ministério essencial para toda a igreja de Deus. Há três setores principais onde a superintendência do apóstolo atua.


1             - Em primeiro lugar, no setor do ensino. Os discípulos primitivos continuaram firmes no ensino dos apóstolos (At 4) e este ensino providenciava as normas para a igreja primitiva. Paulo, como um apóstolo, escreveu com a expectativa de que suas epístolas fossem obedecidas. "Se alguém se considera... espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo. Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele" (1 Co 14:37; 2 Ts 3:14). Pedro escreve que nós devemos lembrar o mandamento de nosso Senhor e Salvador pela boca dos apóstolos (2 Pe 3:2).

II Pedro 3:2 - Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e Salvador.


Quando surgiu o problema da circuncisão, foram os apóstolos que tomaram a iniciativa em resolver o que devia ser ensinado para os convertidos gentios (At 15:5,6). Eles estavam preocupados sobre o ensino a ser administrado ao corpo de Cristo. Precisa haver apóstolos hoje que se preocupem com os vários ensinos e revelações que estão circulando por aí e sejam capazes de tratar com eles com a mesma autoridade dos apóstolos primitivos. Se não houver liderança o povo de Deus pode cair em confusão. É a responsabilidade de um apóstolo assegurar o ensino sólido da palavra de Deus e impedir que o diabo faça destruição através de "ventos de doutrina".


2             - Em segundo lugar, na área de apontar presbíteros. O governo da igreja local era designado pelos apóstolos. Vemos isto no livro de Atos e em Tito. Eles estavam a par daquilo que se passava nas igrejas, designavam os presbíteros locais e exerciam uma superintendência sobre os presbíteros. Seu ministério ajudava a ligar e a unir as igrejas. Quando a palavra fala de presbítero está falando de um líder local um pastor local, mas quando fala de presbitério está se referindo a uma equipe de governo (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres) que é formada por anciões homens experimentados e idôneos.


3             - O terceiro aspecto é no setor de disciplina. Paulo se preocupava com as situações locais e quando ouvia sobre dificuldades nas igrejas, ele escrevia, se envolvendo no problema, mesmo não estando lá fisicamente. Em Corinto ele entregou um irmão a Satanás para a destruição da carne e chamou a igreja para apoiar seu julgamento. Mais tarde ele lhes escreveu: "Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E foi por isso também que vos escrevi, para ter prova de que em tudo sois obedientes" (2 Co 2:8,9). "Portanto, escrevo estas cousas, estando ausente, para que, estando presente, não venha a usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me conferiu para edificação, e não para destruir" (2 Co 13:10). 
Fontes: Biblia sagrada
             Livros, estudos na net.   
             Ruach Ministries International
                         Dr Graham Perrins

Atos dos Apóstolos





O Derramamento do  Espírito Santo (Capítulos 1 e 2)

O livro de Atos mostra o que Jesus CONTINUOU a fazer  através do Espírito Santo, por meio dos seus discípulos. Nesse livro Jesus é apresentado como o Senhor Exaltado. Vemos os feitos dos ensinos de Jesus na vida dos apóstolos.
No livro de Atos a palavra “testemunha” é usada mais de trinta vezes. Ser-me-eis testemunhas, é o coração desse livro. Jesus tinha dito aos discípulos que enviaria o Espírito Santo. Esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio (Jo. 15:26,27). A promessa cumpriu-se no Dia de Pentecostes, quando Ele derramou o Espírito Santo sobre os discípulos (At. 2:16,17,33). A partir desse momento, ao darem testemunho do Salvador, o Espírito Santo daria testemunho, ao mesmo tempo, no coração dos seus ouvintes, e multidões seriam levadas ao Salvador.
O livro de Atos começa com a pregação do Evangelho em Jerusalém, a metrópole da nação judaica, e termina com o Evangelho em Roma, a verdadeira metrópole do poder mundial. Embora esse livro tenha o nome de Atos dos Apóstolos, ele narra, de fato, os atos do Espírito Santo operando através de Pedro, Paulo e seus companheiros. 
De Atos 1 a 12, vemos Pedro testemunhando as judeus. Sua palavra é: Arrependei-vos (At. 2:36-38). Dos capítulos 13 a 28, vemos Paulo testemunhando aos gentios. Sua palavra é: Crê (At. 16:30,31).  Sem dúvida, Atos é o melhor “manual de missões” que já foi escrito. Nele encontramos a razão de ser da obra missionária. O objetivo único dos cristãos era levar os homens ao conhecimento da salvação em Jesus Cristo. Este era o seu tema exclusivo, e a Palavra de Deus sua única arma.
Vemos a igreja primitiva com um programa definido para a realização dos seus planos. Alguns grandes centros foram escolhidos como base de onde pudessem irradiar a influência do trabalho dos discípulos de maneira a atingirem os lugares vizinhos. Os discípulos foram simples, diretos e bem sucedidos. Dependeram inteiramente do poder de Deus, mediante o Espírito Santo. Avançaram com zelo irreprimível e coragem inabalável.   O AUTOR
Não há dúvidas que é Lucas, “o médico amado”, autor também do terceiro Evangelho. O livro de Atos é apontado como uma continuação do Evangelho de Lucas. E de igual modo, é endereçado a um homem chamado “Teófilo”. O Espírito Santo inspirou Lucas a escrever a Teófilo a fim de suprir na igreja a necessidade de um relato completo dos primórdios do cristianismo. No terceiro Evangelho, “o primeiro tratado”, foi seu relato a respeito da vida de Jesus. Em Atos, foi seu relato sobre o derramamento do Espírito Santo em Jerusalém e sobre o crescimento da igreja primitiva. Torna-se claro que Lucas era um escritor habilidoso, um historiador consciente e um teólogo inspirado. 

QUEM FOI LUCAS? 

 
O livro de Atos foi escrito, presumivelmente, cerca do ano 60dC., ano de chegada de Paulo a Roma. Quanto à vida particular de Lucas, pouco conhecemos. Sabemos apenas que ele era gentio, falava o grego fluentemente, era médico de refinada educação, e, após convertido ao Cristianismo, abandonou  as funções médicas, se dedicando a viajar com o apóstolo Paulo, de quem se fez médico e amigo inseparável. Acompanhou Paulo desde Troas até Filipos, viagem memorável durante a qual o apóstolo Paulo levou as boas-novas desde a Ásia até a Europa. Em viagem posterior, esteve com Paulo, desde Filipos até Jerusalém, no seu encarceramento em Cesaréia e acompanhou-o depois até Roma, nos dias tristes do seu confinamento.  Abandonado por outros cooperadores Paulo escreveu: “Somente Lucas está comigo”. Lucas sofreu o martírio, tendo sido enforcado em uma oliveira, na Grécia (EETAD, O Livro de Atos, pág. 3). 


Atos abrange, de modo seletivo, os primeiros trinta anos da história da igreja. Como historiador eclesiástico, Lucas descreve, em Atos, a propagação do evangelho, partindo de Jerusalém até Roma. Ele menciona nada menos que 32 países, 54 cidades, 9 ilhas do Mediterrâneo, 95 diferentes pessoas e uma variedade de membros e funcionários do governo com seus pormenores. Como teólogo, Lucas descreve com habilidade a relevância de várias experiências e eventos dos primeiros anos da igreja.    
O livro de Atos desempenhou um papel substancial como elo de ligação entre os quatros Evangelhos e as Epístolas Paulinas. Nos capítulos 13 a 28, temos o acervo histórico necessário para bem compreendermos o ministério e as cartas de Paulo. 

 O TEMA
O propósito desse livro é narrar a história da formação, desenvolvimento e expansão da Igreja, começando em Jerusalém e concluindo em Roma. Não é uma biografia de Pedro e Paulo e de outros apóstolos. Eles foram personagens importantes que tiveram relação direta com a formação da Igreja. Este livro é um relato do ministério de Cristo continuado por seus servos.
O tema do livro de Atos é a propagação triunfal do Evangelho pelo poder do Espírito Santo. A promessa do derramamento do Espírito Santo foi cumprida entre os discípulos no Dia de Pentecoste (At. 2), e entre os gentios (At. 10). O livro de Atos, poderia ser chamado de “Atos do Espírito Santo”, pois é Ele quem controla em todos os lugares o progresso do Evangelho. 
“As manifestações sobrenaturais que acompanharam a propagação do Evangelho, significaram não só a atividade do Espírito Santo, mas também a inauguração duma nova era na qual Jesus Cristo reinaria como Senhor e Messias” ( EETAD, O Livro de Atos, pág. 09).

O VALOR HISTÓRICO
O livro de Atos contém referências sobre os magistrados das cidades, governadores provinciais, reis visitantes; os lugares por onde os apóstolos passaram; as igrejas que foram abertas; e, outras informações que provam estarem corretas quanto ao lugar e ao tempo em questão. E é interessante colocar que as informações constantes neste livro tem sido confirmadas pelas descobertas arqueológicas posteriores.
Lucas, no livro de Atos, coloca sua narrativa dentro do contexto histórico da época. Com poucas palavras ele transmite autenticidade com relação as muitas cidades, pessoas e situações mencionadas.  Ele, por exemplo, cita os pretores de Filipos que aprisionaram Paulo e Silas; as autoridades de Tessalônica, perante quem Paulo e seus cooperadores foram acusados; decisão de Gálio, procônsul de Acaia, a favor de Paulo; na Judéia, o governador Festo e o rei visitante Agripa II absolveram Paulo; etc. 
Registram as conquistas do Evangelho nos grandes centros gentios da civilização imperial, a rejeição e as acusações sofridas pelos apóstolos nas comunidades judaicas espalhadas pelo império. Tudo com detalhes, relatando momentos históricos vividos pelos apóstolos, principalmente com relação a implantação da igreja e os acontecimentos da época. 

O VALOR PERMANENTE DE ATOS
No início do II século, quando os escritos dos quatro Evangelhos já haviam sido colecionados, circulavam como um conjunto de livros. O Livro de Atos foi dotado de importância sempre mais crescente, e manteve-se separado do Evangelho de Lucas. A circulação rápida do Livro de Atos entre as igrejas no princípio, talvez se tenha dado devido ao impulso de colecionarem as Epístolas Paulinas a partir do primeiro século.
O Livro de Atos frisa a importância da pessoa e obra de Paulo, e testifica também quanto ao trabalho de outros apóstolos, especialmente Pedro. O valor desse livro no contexto do Novo Testamento é sua posição entre os Evangelhos e as Epístolas Paulinas. Por um lado ele forma a seqüência natural para os quatro Evangelhos, por outro, forma um fundo histórico para as epístolas e atesta o caráter apostólico da maioria dos doze. 
Além do que, serve ainda como documento acerca dos primórdios do Cristianismo. Torna-se um livro de informações do mais alto valor para uma fase extremamente significativa da história da Igreja  e da civilização mundial. (EETAD, O Livro de Atos, pág. 10,11)


PODER PARA TESTEMUNHAR (At. 1 e 2)
Os cinco primeiros versículos do livro de Atos, registram o cuidado mostrado por Jesus em conscientizar os apóstolos quanto à responsabilidade que lhes caberia daquele momento em diante, e as instruções de que precisavam.
Quarenta dias se passaram entre a ressurreição e a ascensão de Jesus. Durante esses dias os discípulos estiveram na companhia do Senhor Jesus. Eles estão prontos para ouvir as últimas instruções. Jesus falava das coisas que diziam respeito ao reino de Deus. Nessa ocasião o Mestre determina que eles não se ausentassem de Jerusalém, mas esperassem a promessa do Pai  (At. 1:4).
Os primeiros 11 versículos do primeiro capítulo servem de introdução para o resto do livro:
A grande comissão (1:6-8);
A ascensão (1:2, 9,11); - A volta de Cristo (1:10,11). 
Os discípulos ainda não estavam satisfeitos quanto à época em que Cristo iria estabelecer o seu reino na terra. Ainda esperavam um reino que lhes desse independência política e os colocasse em posição de liderança mundial (1:6). A respeito disso, Jesus responde que a eles não competia  saber os tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria autoridade (1:7). 
Jesus tentava explicar que o poder deles não seria político, mas espiritual. E continua a sua resposta dando uma promessa e uma comissão aos discípulos: Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra (1:8).  A intenção de Jesus com estas palavras era tirar de seus corações as ambições nacionalistas e colocar uma conscientização do ide e pregai o evangelho a todo mundo. 
Com a ascensão, o Senhor desapareceu, mas permaneceu com eles de modo ainda mais real. Depois das suas últimas palavras, Ele foi arrebatado e uma nuvem o encobriu dos olhos dos seus discípulos. Foi um acontecimento tão notável, mas contado com tão poucas palavras! O Pai levou seu Filho de volta à glória. E deixa com os seus um Consolador, o Espírito Santo.  

CRISTO VOLTARÁ
Esse Jesus...assim virá do modo como o vistes subir (At. 1:11). Como será a sua volta aqui anunciada?  A promessa é que Ele vai voltar do modo como subiu. Assim sendo, devemos examinar como Ele foi, pois, assim saberemos como Ele voltará. Sua volta será:
(1) Pessoal - “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (I Tes. 4;16); (2) Visível -  Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele”(Ap. 1:7); (3) Corpórea - “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão vir o Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória (Mt. 24:30); (4) Local - “Então os levou fora, até Betânia; e levantando as mãos, os abençoou (Lc. 24:50).

Os discípulos perdiam a companhia física do Mestre, mas em recompensa receberam a promessa do derramamento do Espírito Santo. Embora tivessem tido três anos de treinamento com o Senhor, precisavam da presença do Espírito Santo a fim de revesti-los de poder. Já haviam dado provas, em situações anteriores de serem um grupo de homens de pouca coragem e fé. Então, Jesus disse-lhes que não saíssem de Jerusalém, mas esperassem. Seria natural que fugissem do lugar em que o seu Senhor tinha sido crucificado, e voltassem para a Galiléia. Mas, como Jesus diz que permanecessem na cidade de Jerusalém, no centro de maior influência daquela época.  
“Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, que está perto de Jerusalém, à distância da jornada de um sábado. E, entrando, subiram ao cenáculo, onde permaneciam Pedro e João, Tiago e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At. 1:12-14).
O cenáculo (uma sala ampla, geralmente andar superior) seria provavelmente parte da casa de Maria, mãe de João Marcos, local em que também, supõe-se, ter se realizado a última Ceia de Jesus com os discípulos. 
O versículo acima menciona “as mulheres”. É esta a última vez que o nome de Maria, mãe de Jesus, é mencionado. E também fala dos “irmãos de Jesus” que certamente eram filhos de Maria e José. Seus nomes eram: Tiago, José, Judas e Simão (Mc. 6:3).
Em Atos 1:15-26, Matias é escolhido para preencher o lugar deixado por Judas. “E orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido para tomar o lugar neste ministério e apostolado, do qual Judas se desviou para ir ao seu próprio lugar. Então deitaram sortes a respeito deles e caiu a sorte sobre Matias, e por voto comum foi ele contado com os onze apóstolos” (vs.24-26).
“Alguns comentadores ensinam que Deus não aceitou Matias  como um dos doze apóstolos, mas sim a Paulo. O Novo Testamento, entretanto, diz o contrário (EETAD, O Livro de Atos, pág. 28).  
Matias foi contado com os onze (At. 1:26); 
A expressão “Pedro com os onze” (At. 2:14), inclui Matias.
Haviam doze apóstolos antes da conversão de Paulo (At. 6:2); 
Matias foi escolhido para cumprir a profecia (At. 1:16-20; Sl. 69:25; 109:8); 
Matias tinha qualificações de apóstolo (At. 1:21,22); 
A escolha de  Matias se deu em resposta à oração (At. 1:24; Jo. 14:13,14);
Paulo não contou a si mesmo como um entre os doze, mas como apóstolo especial aos gentios (At. 9:15; Gl. 2:7-9). Os doze julgariam os judeus; eram especialmente destinados aos judeus (Mt. 19:28);
Paulo não era um dos doze de que se faz menção em I Coríntios 15:5. 
Paulo tinha as qualificações de apóstolo, mas não como um dos doze, porque não acompanhara os discípulos desde o batismo de João (At. :21,22)” 
Depois da vinda do Senhor Jesus Cristo à terra, o acontecimento de maior importância é a vinda do Espírito Santo. A Igreja nasceu no dia de Pentecoste. O Pentecoste era uma das festas mais populares e Jerusalém estava repleta de peregrinos de toda parte. Cinqüenta dias tinham passado  desde a crucificação. A partir dessa data, o Pentecoste não seria mais  uma festa judaica mas o raiar de um novo dia, o do nascimento da Igreja de Cristo.
Pentecoste era uma festa sagrada do Antigo Testamento que ocorria 50 dias após a Páscoa. Pentecoste deriva da palavra grega penteekostos que significa quinquagésimo. Essa festa é também chamada Festa das Colheitas, porque nela as primícias da sega  de grãos eram oferecidas a Deus (Leia mais sobre essa festa em Levítico 23:15-21). Da mesma forma, o dia de Pentecoste simboliza, para a igreja o início da colheita de vidas para Deus neste mundo. 

E PERSEVERAVAM UNÂNIMES EM ORAÇÃO 
Antes do derramamento do Espírito Santo, no Pentecoste, podemos observar em Atos 1:12-14, que os discípulos estavam no cenáculo em Jerusalém,  perseverando em oração e súplicas. Há uma lição a ser aprendida nesses versículos. A experiência do Pentecoste sempre envolve a responsabilidade humana. Aqueles que desejam o derramamento do  Espírito Santo em sua vida, para terem poder para realizar a obra de Deus, devem colocar-se a disposição do Senhor mediante submissão à vontade de dEle e à ORAÇÃO. Note os paralelos entre a vinda do Espírito Santo sobre Jesus e sobre os discípulos: (1) veio sobre eles depois que oraram; (2) houve manifestações visíveis; (3) os ministérios começaram depois do Espírito Santo vir sobre eles. (Bíblia Pentecostal, pág. 1629, 1630).     
A cena abre-se com os discípulos reunidos, com os corações firmados em Cristo, esperando o cumprimento da promessa. O próprio Espírito Santo desceu naquele dia. Lucas não diz que apareceu um vento, mas o som era um símbolo, assim  como as línguas de fogo. O  “vento impetuoso” representava o poder celestial. As “línguas de fogo” indicavam o poder para testemunhar. O Espírito Santo pousou sobre os discípulos (2:1-3); entrou neles (2:4); e operou por meio deles (2:41-47). Eles foram cheios do Espírito Santo e assim estavam capacitados para um serviço especial. Não só foram capacitados para pregar com poder, mas para falar nas diferentes línguas representadas naquele dia em Jerusalém (2:24).
O maravilhoso no Pentecoste não foi o vento veemente e impetuoso, nem as línguas como de fogo, mas o fato de os discípulos serem cheios do Espírito Santo para que pudessem testemunhar aos homens.  É bem verdade que o Espírito Santo não veio ao mundo pela primeira  vez por ocasião do Pentecoste. Por todo o Antigo Testamento encontramos narrativas que mostram como Ele guiava e fortalecia  os homens. Mas, agora o Espírito Santo iria fazer uso de um novo instrumento, a   Igreja, nascida naquele dia.
“E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a  multidão; e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua” (At 2:2-5).
Todos ficaram atônitos e perplexos (2:12). O homem, por natureza, é descrente. Alguns zombavam, dizendo:  Estão embriagados (2:13-15). Os homens sempre procuram explicar os milagres de Deus  pelas leis naturais. Mas o racionalismo nunca pode dar uma explicação razoável para aquilo que é divino. Além disso, eram nove horas da manhã, e nenhum judeu podia tocar em vinho até aquela hora. 
Aos zombadores, Pedro explicou que os apóstolos e demais não estavam embriagados. Ele explica que o que estava acontecendo era o cumprimento da profecia de Joel: “E acontecerá nos últimos dias, diz     o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão sonhos; e sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão. E mostrarei prodígios em cima no céu; e sinais embaixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (At. 2:17-21). 
Pedro continua discursando. É o primeiro sermão evangélico e o seu tema enfoca que Jesus é o Messias. Pedro é a figura central nos doze primeiros capítulos de Atos. O verdadeiro poder do Espírito Santo revelou-se quando esse humilde pescador se levantou para falar e três mil pessoas foram salvas. Como poderíamos explicar a ousadia de um Pedro, que antes fora covarde, ao se levantar para pregar a uma multidão nas ruas de Jerusalém? Qual era o segredo do ministério de Pedro? O Pedro inconstante e impulsivo, que negou a seu Mestre, foi transformado pelo Espírito Santo. Ele jamais esteve sob tão forte unção, como no dia de Pentecostes.
Suas palavras foram como flechas no coração duro dos judeus.  
“E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?      Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja   batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados;    e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence-  cem a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos  o Senhor nosso Deus chamar” (At. 2:37-39).
Pedro os chama ao arrependimento e menciona a promessa do  Espírito Santo que era para todos que aceitassem a Jesus. “De sorte  que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia   agregaram-se quase três mil almas” (v. 41). Eis o resultado do sermão de Pedro. A primeira Igreja de Jerusalém foi organizada com três mil membros no Dia de Pentecostes. Que dias gloriosos se seguiram, de ensino, comunhão, sinais e prodígios, e, sobretudo, salvação! Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor dia a dia os que iam sendo salvos (v.47). Tão maravilhoso como o dom de línguas era o viver diário da primeira Igreja. Não é de se admirar que eles contassem com a simpatia de todo o povo e que dia a dia crescesse o número de salvos. 
Nessa ocasião, como já foi mencionado, Jerusalém estava cheia de judeus  de todas as nações que estão debaixo do céu (At. 2:5). Estavam ali muitos judeus das regiões mais afastadas do Império Romano, desde a Mesopotânia a leste, até Roma a oeste, e até a África, a sudoeste. Não é esclarecido que todos os que se converteram eram de todas essas nações; mas como encontramos referências de cristãos em Damasco, Cirene, Chipre, Roma e outras partes, é bem provável que muitos tenham se convertido nessa ocasião.
Do versículo 42 ao 47, podemos observar como esses primeiros cristãos viviam e como se relacionavam: 
Perseveram na comunhão; perseveravam no partir do pão; perseveravam nas orações; em cada um havia temor;  muitos sinais e prodígios eram feitos;  vendiam as suas propriedades e bens e distribuíam entre todos;  louvavam a Deus. 
O resultado era que muitas pessoas eram acrescentadas. Pessoas de toda parte eram atraídas pelo gozo e alegria e forma de vida  dos novos convertidos. 
Devido ao crescimento do Evangelho e a propagação do nome e dos feitos de Jesus, muitos opositores começaram a se levantar contra a Igreja. A primeira perseguição foi desencadeada pelos saduceus, mas haviam os fariseus, os herodianos, e vários outros grupos religiosos, fazendo oposição aos seguidores de Jesus.    
 

O primeiros mártires


A Morte de Estevão e a  Conversão de Saulo (Capítulos 3 a 9)
O capítulo 3 inicia junto à Porta Formosa do Templo. Pedro havia curado um coxo de nascença, que era levado diariamente àquele lugar para pedir esmolas. O milagre atraiu a atenção  dos líderes judeus e resultou na primeira
 A oposição à igreja. Ao juntar-se uma multidão ao redor do coxo, curado tão milagrosamente, Pedro aproveitou a oportunidade para pregar o seu segundo sermão, de que temos registro. Ele não poupou os judeus. Voltou a dizer-lhes que Cristo, a quem haviam crucificado, era o Messias há muito prometido. As palavras de Pedro e João foram tão poderosas que um total de cinco mil pessoas já tinham recebido a Cristo.
Neste sermão, Pedro alcança o pico mais elevado da Cristologia.    A princípio parece que ele atribui o milagre da cura do coxo de nascença ao “Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó” (At. 3:13), e depois a Jesus (v. 16). No entanto, vemos uma correspondência entre o Jeová do Antigo Testamento com o “nome” de Jesus do Novo Testamento. “E matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde” (At. 3;15,16). 
Os líderes revoltaram-se porque os apóstolos ensinavam ao povo que esse Jesus a quem eles haviam crucificado, ressuscitara dos mortos e iria voltar (At. 4:2). Ordenaram-lhes que não pregassem, mas a oposição só fez a igreja prosperar. Vendo a crescente popularidade do nome de Jesus, os sacerdotes mandam prender Pedro e João, para que não falassem mais de Jesus. Nota-se a coragem de Pedro na maneira decidida com que fala nos versículos 9-12, 19, 20 do capítulo 4. Podemos notar um Pedro totalmente diferente de semana antes, quando negou o Senhor. Agora, sem vestígio de medo, desafia as autoridades que mataram a Jesus.
Os sacerdotes com os guardas, leva-os presos por perturbação da ordem e pregação de heresias. Esses sacerdotes pertenciam ao partido dos saduceus,  que não acreditavam na ressurreição dos mortos, assunto este predominante na pregação de Pedro. 
No dia seguinte a prisão, eles são levados diante do concílio religioso dos judeus, chamado Sinédrio. Eles estavam sendo acusados de blasfêmia contra o Deus dos judeus, por causa do homem que fora curado em nome de Jesus. Pedro, entretanto, não volta atrás e confirma diante do Sinédrio as suas confissões. 
“Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, nesse nome está este aqui, são diante de vós. Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta como pedra angular. E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos” (At. 4:10-12).
Como não acharam motivos para castigá-los e por causa do povo que glorificava a Deus pelo que acontecera com o coxo, os libertaram deixando-os ir. Assim que foram soltos, procuraram seus amigos e contaram as experiências e se uniram em oração e louvor. Ameaçados pela força humana, eles se voltaram para o poder que vem de Deus. Exaltavam o poder onipotente de Deus revelado na criação (v. 24); discorrem sobre os inimigos que se levantaram contra Jesus (vs. 25-27); e suplicam a Deus que conceda a eles ousadia para continuar pregando a Palavra e poder para fazer sinais e maravilhas (vs. 29,30). 
A medida que oravam, recebiam respostas, conforme as  petições feitas. Segundo o texto de Atos 4:31, se lê que tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus


PRONTOS A CONSIDERAR
Dessa fervorosa  oração elevada a Deus pela comunidade cristã de Jerusalém, face à perseguição sofrida pelos apóstolos Pedro e João, temos dois pontos a considerar. Primeiro, nosso Deus é um Deus que ouve e responde as orações dos que nEle confiam e a Ele recorrem. Como sinal de que tinham sido ouvidos “aterra tremeu”, e, em seguida, sob a direção do Espírito Santo, com ousadia e liberdade pregavam. Em segundo lugar, é interessante observar o sentimento que atuava nos corações daqueles cuja oração fora atendida: (1) estavam dominados por um santo temor; (2) reinava liberdade para prosseguir no trabalho de anunciar Cristo; (3) movidos pelo altruísmo, apresentavam o Cristo ressurreto, poderoso para salvar. As orações dos que abrigam tão nobre sentimento hão de ser respondidas sempre que o Reino de Deus  a Sua justiça ocuparem o primeiro lugar em suas vidas. Orações que demonstram submissão  amor a Deus são orações que jamais ficam sem resposta. (EETAD, O Livro de Atos, pág. 56)   

Depois dessa experiência, as pregações trouxeram ainda mais unidade à Igreja. O poder divino manifesto no mais alto grau operava nos e através dos apóstolos. 
Da multidão dos que creram era um o coração e a alma (4:32). Os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor Jesus (4:33). Um grande mover se fazia presente no meio do povo que não havia entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que vendiam e o depositavam aos pés dos apóstolos. E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade (4:34,35).
Ninguém era obrigado a desfazer-se dos seus bens. Não se esperava isso deles. Quando alguém trazia o que tinha era um ato espontâneo. A Igreja tornou-se tão desprendida que vendiam os seus bens e depositavam os valores correspondentes aos pés dos apóstolos para serem distribuídos à medida que alguém tivesse necessidade. Contudo, mesmo esse ato de amor generosidade, estava sujeito ao abuso e ao engano. 
No capítulo 5, Ananias e Safira mostravam o espírito de engano, pelo qual iludiram a si mesmos e aos apóstolos. Mas o Espírito Santo revelou a verdade da situação. Eles queriam glória sem pagar o preço. Queriam honra sem honestidade.  Foram punidos de morte instantânea por terem declarado que estavam dando tudo a deus, quando guardavam uma parte para si (At. 5:4,5). 

O PROPÓSITO DO JULGAMENTO
“E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos os que ouviram estas coisas” (At. 5:11). No princípio do Cristianismo era importante que toda a corrupção fosse afãstada do seu meio - daí o terrível castigo de Ananias e Safira. Tal castigo ensinou a todos que a Igreja é uma instituição sagrada, e que ela não tolera a desonestidade. Muitos dos que tiveram conhecimento do triste fato, tinham admiração pelo Cristianismo, sem contudo ousar se filiar a ele (v. 13), porque ninguém, a não ser mediante a conversão e transformação, iria juntar-se a uma organização em que os hipócritas caíam mortos.  O julgamento divino contra o pecado de Ananias e Safira levou a um aumento de humildade, reverência e temor do povo para com um Deus santo. (EETAD, Livro de Atos, pág. 58,59). 

O poder do testemunho dos apóstolos residia no fato de suas vidas serem uma confirmação da vida do Cristo ressuscitado. Quando se operavam sinais e prodígios, as multidões vinham para ver. Quando o Espírito Santo estava presente, o povo via o poder de Deus. O mesmo acontece hoje. Quando as igrejas apresentam Cristo em sua formosura e o Espírito  Santo em seu poder, o povo vem. Jesus atrai todos os homens. Os milagres em geral produzem conversões. Quando o milagre das línguas apareceu, a multidão afluiu (2:6). Quando Pedro e João curaram o homem junto à Porta Formosa,  o povo correu atônito para junto deles no pórtico chamado de Salomão (3:11). Quando o milagre do julgamento veio sobre Ananias e Safira, crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor (5:14). Uma igreja cheia do Espírito Santo é uma igreja que trabalha.
“Levantando-se o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele (isto é, a seita dos saduceus), encheram-se de inveja, deitaram mão nos apóstolos, e os puseram na prisão pública” (At. 5:17,18). Vemos novamente que o trabalho maravilhoso dos apóstolos provocou a oposição do Sinédrio (um tribunal de 70 juízes). Com o propósito de impedir a ação dos apóstolos, as autoridades mandam prendê-los, mas a ação deles tem êxito por pouco tempo, pois de noite um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere... conduzindo-os para fora (v. 19).
No dia seguinte, o conselho aguardava os presos para o julgamento, no entanto, são surpreendidos com a notícia de que não se encontravam na prisão. “Achamos realmente o cárcere fechado com toda a segurança, e as sentinelas em pé às portas; mas, abrindo-as, a ninguém achamos dentro” (v. 23), e, ficaram ainda mais surpresos quando ouviram: “Eis que os homens que encerrastes na prisão estão no templo, em pé, a ensinar o povo” (v. 25).  
Eles são levados presos novamente perante o Conselho e chamados à atenção por insistirem a ensinar em nome de Jesus. Mas eles respondem que mais importava obedecer a Deus do que aos homens (v. 29).  Pedro continua com seu discurso duro e direto, dizendo que eles mataram a Jesus. E prossegue discursando que Deus O ressuscitara e O elevara a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.
“Ora, ouvindo eles isto, se enfureceram e queriam matá-los” (At. 5:33). Nesse momento entra em cena um certo fariseu chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado pelo povo, que convence o Conselho a deixar os apóstolos em paz com o seguinte parecer: “Agora vos digo: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque este conselho ou esta obra, caso seja dos homens, se desfará;  mas, se é de Deus, não podereis derrotá-los; para que não sejais, porventura, achados até combatendo contra Deus”(At. 5:38,39).  

 
O SÁBIO RABINO GAMALIEL
Foi discípulo de Hilel e mestre de Saulo. Foi o rabino mais ilustre do seu tempo e líder do partido dos fariseus no Sinédrio. Por isso o seu julgamento a respeito dos  apóstolos ser respeito pelos saduceus. Teudas, a quem Gamaliel se refere em Atos 5:33, foi um mágico que, segundo relato do historiador Flávio Josefo, guiou um ban-do de adeptos seus ao Jordão, prometendo separar as águas para atravessarem a pés enxuto, como fizera o povo de Israel. Considerado um elemento perigoso, foi atacado e morto por soldados enviados pelo procurador Fado. ( EETAD, O Livro de Atos, pág. 61) 

Um grupo de pescadores ignorantes levantara-se para ensinar, e as multidões os ouviam e seguiam. Esta é a razão de o Sinédrio estar perturbado. Apesar de os apóstolos terem sido açoitados e proibidos de pregar, sentiam-se felizes por terem sido achados dignos de sofrer pelo nome de Jesus. E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus, o Cristo (5:42).
E crescia o número de discípulos e seguidores do cristianismo, mas também surgiu um problema sério que precisava ser solucionado rapidamente. No início a Igreja em Jerusalém cuidava dos seus membros pobres e das viúvas, principalmente. Com á falta de organização desse trabalho, as viúvas que pertenciam ao grupo helenista (grego) estavam sendo discriminadas pelos judeus de fala hebraica, que eram a maioria. Esse acontecimento se tornou grave pois poderia levar a uma dissensão entre os dois grupos. Foi convocada uma reunião onde os doze apóstolos apresentaram a questão e a seguinte solução: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (At. 6:2-4). Parecendo bem à todos, foram indicados sete nomes para ficarem encarregados de trabalho: Estevão, Felipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau.        
Eram homens cheios do Espírito Santo, de sabedoria e de fé. E foram escolhidos entre os judeus helenistas, e de fala grega. Havia agora dois de ofícios na igreja. Um era o de “servir as mesas”, cuidar da beneficência. O outro era o da pregação e da oração.  Dois deles, Estevão e Felipe, se projetaram muito além dos limites desta função especial.  Eles tornaram-se homens de grande influência na igreja,  talvez por isso a oposição centralizou-se neles, principalmente em Estevão. Leia as experiências registradas nos capítulo 6 e 7. Estevão era simplesmente um leigo, mas foi um dos primeiros diáconos. Ele é descrito como homem cheio de graça e de poder (6:8).   O Espírito Santo lhe deu pode para fazer sinais e prodígios, lhe deu grande sabedoria para pregar o evangelho de tal maneira, que seus oponentes não encontraram nada para contestar os seus argumentos (6:10). “Então subornaram uns homens para que dissessem: Temo-lo ouvido proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus” (At. 6:11).
Estevão é levado perante o conselho, o mesmo que tinha é  crucificado a Jesus e que havia proibido os apóstolos de falar de Jesus. Perante o Sinédrio, ele discursa em defesa da fé propagada e dos apóstolos. Ele faz um resumo histórico do Antigo Testamento, caracterizando os judeus como responsáveis pela morte de Jesus. Lucas, relata que, quando Estevão falava, seu rosto era como de anjo. Os líderes da sinagoga não puderam resistir à sabedoria e ao espírito com que ele falava. A ira deles transformou-se em ódio homicida. “Então eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele e, lançando-o fora da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas vestes aos pés de um mancebo chamado Saulo. E, apedrejavam, pois, a Estêvão”(At. 7:5759). Estevão tornou-se o primeiro mártir da Igreja cristã. Podemos atribuir à morte de Estevão, sem dúvida, as primeiras impressões que os seguidores de Jesus causaram em Saulo. 
No início do capítulo 8, lemos: “E também Saulo consentiu na morte dele (Estevão)” (At. 8:1a). Saulo  foi o grande líder da primeira perseguição  em grande escala contra  a igreja. Homens e mulheres eram encerrados na prisão e açoitados, e muitos foram mortos (8:3). Os discípulos tinham sido testemunhas em Jerusalém, mas Jesus dissera que deviam ir à Judéia e Samaria. Os guias religiosos julgavam estar fazendo a  vontade de Deus ao procurarem acabar com o Cristianismo, matando os cristãos. Sem saber, Saulo realmente começou naquela ocasião sua  obra espalhar o Evangelho. Ele pensava estar destruindo o Cristianismo, quando, na verdade, o estava divulgando. Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a palavra (8:4).  

O ALCANCE DA DISPERSÃO
O ataque a  comunidade cristã  em Jerusalém, fez com que milhares deles se espalhassem por toda a Palestina. Os cristãos, com o coração cheio de fé e fervor, levaram o Evangelho por onde iam. Alguns deles chegaram à grande cidade de Antioquia, na Síria. Nessa cidade, em meio a uma população grega, os exilados tornaram Jesus conhecido tanto de gregos como de judeus. Antioquia foi fundada cerca do ano 300 a.C. por Seleuco I Nicator, era a mais famosa das dezesseis Antioquias.  Apesar da população de Antioquia ser mista, Josefo registra que os selêucidas encorajaram os judeus a emigrarem para ali em grande número, dando-lhes plenos direitos de cidadãos. Foi em Antioquia que os seguidores de Jesus foram chamados cristãos pela primeira vez. Assim, os crentes de então deram o grande passo par o estabelecimento do Cristianismo no mundo todo, pois mais tarde a próspera igreja de Antioquia enviaria Barnabé e Paulo para pregarem aos gentios. (EETAD, O livro de Atos, pág. 70, 71).

Esta foi a razão do Evangelho espalhar-se a princípio. Qual foi a comissão dada aos discípulos? Ide por todo mundo e pregai o evangelho.  Quantos discípulos Jesus treinou para a sua obra? Somente doze, e um deles o abandonou. 
Lá estavam eles em Jerusalém, e todo mundo precisando do Evangelho. A perseguição de Saulo, espalhou os cristãos pelo mundo. Não foi a covardia que os levou a fugir, porque os encontramos em toda parte pregando o Evangelho. 
“E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo. As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados; pelo que houve grande alegria naquela cidade” (At. 8:6-8). Filipe, um dos sete diáconos escolhidos, era evangelista. Como resultado da perseguição, ele se estabeleceu em Samaria. Com isso a população samaritana foi alcançada pelo evangelho através da vida de Filipe. O êxito de sua pregação foi tão grande que Pedro e João são enviados a Samaria para ver o que estava acontecendo. Chegando na cidade, eles constataram a conversão dos samaritanos e impondo-lhes as mãos eles foram cheios do Espírito Santo.
E um certo homem chamado Simão chega próximo aos discípulos e oferece-lhes dinheiro, dizendo: “Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo” (8:19). Simão era um mágico que plantava um certo temor no povo com seus poderes. Ele vendo o que acontecia quando os apóstolos colocavam aos mão sobre as pessoas, ofereceu dinheiro em troca desse “poder”. Mas, diante da dura resposta de Pedro, Simão pede: “Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha sobre mim” (At. 8:24). De acordo com Hipólito - um dos principais líderes da Igreja antiga, a exibição final de Simào foi um fracasso. Ele foi enterrado vivo, prometendo reaparecer dentre de três dias; mas não conseguiu.
“Ele não era de Cristo” - relata Hipólito. 
Voltando a Filipe, multidões o seguiam em sua campanha de evangelização, mas Deus lhe diz que deixasse o trabalho que estava fazendo com tanto êxito, para ir para a banda do sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza. Filipe obedeceu e no caminho encontrou em etíope, que pelo seu testemunho, se converteu ao Cristianismo e que sem dúvida levou o Evangelho à África. O Evangelho estava a caminho dos confins da terra.  Enquanto o novo convertido continua sua viagem, Filipe, que fora arrebatado pelo Espírito, se achou depois em Azoto, e ia anunciando o Evangelho em todas cidades, até que chegou a Cesaréia (v. 40). 
O capítulo 9 narra a conversão de Saulo. Pouco se sabe sobre ele, no intervalo do seu nascimento até o seu aparecimento em Jerusalém. Embora fosse da tribo de Benjamim, era um zeloso membro da seita dos fariseus. Era cidadão romano por ter nascido na cidade grega de Tarso, na Ásia Menor, pertencente na época ao império romano. Ele teria sido levado para Jerusalém ainda criança, onde foi educado aos pés de Gamaliel.
A primeira menção feita sobre Saulo foi por ocasião da morte de Estevão. O martírio deste parece ter influenciado aquele perseguidor da Igreja. A sua conversão é uma das mais emocionantes da História. Antes ele estava espirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor (9:1), mas depois o veremos pregando  nas sinagogas, afirmando que Jesus é o Filho de Deus (9:20).
“E Saulo, dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém” (At. 9:2). Ele partir para Damasco, e no caminho, já próximo a cidade, é paralisado por um jato de luz sobrenatural e poderosa que o faz ficar cego e cair por terra. E ouve uma voz que dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? (9:4). Ao que ele pergunta: Quem és tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te cumpre fazer 9:5,6). Saulo tem uma experiência muito forte, ao ponto de fazê-lo ouvir e obedecer à voz de Deus. Nesse momento ele passa a ser um dos principais evangelistas do mundo cristão. Cego, ele foi conduzido até a rua Chamada Direita, à casa de Judas, onde permaneceu um tempo, até que Deus envia Ananias, para impor as mãos sobre ele e tornasse a ver.
“Ananias, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me para que tornes  a ver e sejas cheio do Espírito Santo. Logo lhe caíram dos olhos como  que umas escamas, e recuperou a vista: então, levantando-se, foi batizado”  (At. 9:17,18). Três dias depois da sua conversão, Saulo recebe a plenitude do Espírito Santo. A experiência dele forma um paralelo com a dos discípulos no dia de Pentecoste. Primeiro, experiência do novo nascimento - da salvação; depois o de ser “cheio do Espírito Santo”.
Depois disso Saulo vai para as sinagogas pregar a Jesus, dizendo que Ele era o filho de Deus (9:20). Podemos calcular a confusão que ocorreu entre os judeus! Pois agora Saulo estava defendendo a causa que antes procurou destruir. Como aceitar no meio deles um homem que havia perseguido o povo judeu? Os judeus tentavam de toda maneira matálo. Mas as ciladas chegavam ao conhecimento de Saulo antes e ele conseguia fugir. Quando ele chegou em Jerusalém não foi diferente. Ele procurava se unir aos discípulos, mas todos o temiam. 
“Então Barnabé, tomando-o consigo, o levou aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira o Senhor e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus. Assim andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, e pregando ousadamente em nome do Senhor. Falava e disputava também com os helenistas; mas procuravam matá-lo. Os irmãos, porém, quando o souberam, acompanharam-no até Cesaréia e o enviaram a Tarso” (At. 9:27-30).  
Somente três anos mais tarde é que Saulo volta a cidade de Jerusalém, onde se encontra com Pedro e Tiago.
No versículo 31 do capítulo 9, dia que a Igreja em toda a Judéia e Galiléia, e Samaria teve paz e eram edificadas.  A primeira grande perseguição à Igreja chegava ao fim com a conversão de Saulo, o grande perseguidor dos cristãos. 
      

A  Igreja Gentílica

 


A Primeira e Segunda   Viagens de Paulo (Cap. 10 a 18)
A Igreja iniciada no Pentecostes era totalmente formada de judeus, devido a certos preconceitos, tradições e costumes do povo judaico. Entretanto, o plano divino consistia em alcançar todas as pessoas por meio de Jesus Cristo. Os apóstolos após a experiência do derramamento do Espírito Santo também desejavam a salvação de todas as pessoas. No entanto, não compreendiam que a salvação já não se restringia a Israel, mas que agora abrangia todas as nações. Deus estava quebrando toda a resistência dos apóstolos com relação a pregação do Evangelho a toda criatura, quer judeu ou gentio. 
O próprio apóstolo Pedro vivenciaria uma experiência maravilhosa com relação a isto. Ele pôde então perceber que Deus não tem nenhuma nação ou raça predileta, nem favorece qualquer indivíduo por causa da sua nacionalidade, linhagem ou posição social.
Neste capítulo veremos Deus rompendo as barreiras ainda existentes nos corações, principalmente, dos apóstolos com relação a aceitação da salvação dos gentios. Deus sanou estas barreiras, promovendo um encontro entre duas pessoas: Cornélio, um gentio interessado no Evangelho, e Pedro, o pregador judeu. O que Pedro tinha feito desde o Pentecoste? Não é só o que a pessoa crê, mas o que ela faz com o que crê, que importa. Cristo havia dito a Pedro que ele seria testemunha. Ele ajudou a iniciar a primeira igreja, realizou milagres e batizou milhares. Seu trabalho era entre os judeus.
Encontramos Pedro agora na casa de Simão, o curtidor (At. 10:5,6).
Deus iria mostrar-lhe que o Evangelho era tanto para os gentios como para  os judeus. O muro alto da diferença religiosa  precisava ser derrubado. Pedro foi o homem a quem Deus usou para iniciar essa tarefa. Jesus estava construindo uma Igreja e queria que tanto judeus como gentios fossem as pedras vivas com as quais fosse formada (Ef. 2:20-22).
No Pentecoste, Pedro usara as “chaves do reino” confiadas a ele para abrir a porta do Evangelho aos judeus. Na casa de Cornélio, Pedro faria uso da chave e abriria a porta que impedia os gentios de entrar no reino de Deus. 
Cornélio foi o primeiro gentio a receber a mensagem do Evangelho. Ele era um oficial do exército romano em Cesaréia. Possivelmente, ele fazia parte da guarda do próprio governador e tinha uma posição logo abaixo deste. Cesaréia fica na costa marítima da Palestina, à noroeste de Jerusalém, era a capital romana da Palestina. 
Lucas descreve Cornélio como piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, que dava esmolas ao povo e orava a Deus. Em um desses momentos de oração, foi que um anjo, em visão, disse a Cornélio que as suas orações e as suas esmolas haviam subido para memória diante de Deus (At. 10:4). Ele nessa ocasião foi instruído a enviar mensageiros a Jope, para chamar um homem chamado Pedro, que lhe diria o que deveria fazer. 
No mesmo instante Deus preparava Pedro para o encontro com Cornélio, um gentio. Em Atos 10:9-16, temos a narrativa da experiência de Pedro antes de os mensageiros de Cornélio chegarem. Se não fosse a visão especial recebida da parte de Deus, provavelmente Pedro não iria ao encontro de Cornélio. Pedro obedece a orientação do Senhor e parte para Cesaréia. O que aconteceu depois, foi que Cornélio e sua família receberam  a Palavra de Deus e repetiu-se a experiência do Dia de Pentecostes, desta vez, na vida de uma família gentia.
“Enquanto Pedro ainda dizia estas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. Os crentes que eram de circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que também sobre os gentios se derramasse o dom do Espírito Santo; porque os ouviam falar línguas e magnificar a Deus. Respondeu então Pedro: Pode alguém porventura recusar a água para que não sejam batizados estes que também, como nós, receberam o Espírito Santo? Mandou, pois, que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então lhe rogaram que ficasse com eles por alguns dias”  (At. 10:44-48).
Assim, Cornélio e sua família foram aceitos como membros da Igreja. Isto deve ter acontecido aproximadamente dez anos depois da fundação da Igreja em Jerusalém, e não há dúvida de que isso contribuiu para o início da Igreja de Antioquia. 

 
OS FIÉIS ADMIRADOS
É indiscutível a providência divina quanto àqueles homens que da Judéia acompanharam Pedro até Cesaréia. Aquilo que podemos chamar de prudência da parte de Pedro, ele o fez movido pelo Senhor. Seriam testemunhas oculares de tudo que iria acontecer na casa de Cornélio. Foram, pois, estes homens que ficaram admirados porque também sobre os gentios foi derramado o Espírito Santo. O que aconteceu foi que a conversão e o recebimento do espírito santo foram simultâneos. É provável que, se os gentios tivessem somente crido e recebido o perdão da parte de Deus, sem mais nada, os crentes judeus não teriam crido no testemunho deles, e não lhes concederiam o batismo em água (EETAD, O Livro de Atos, pág. 83).

“Ora, ouviram os apóstolos e os irmãos que estavam na Judéia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus. E quando Pedro subiu a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles” (At. 11:1-3).
Os que eram da circuncisão, começaram a contender com Pedro. Era muito difícil para eles aceitarem os gentios, principalmente porque não tinham sido circuncidados conforme o Antigo Testamento mandava fazer. Eles estavam presos a Antiga aliança. Para os judeus agradar a Deus significa guardar a Lei. Mas Pedro teve por defesa a explicação de como tudo aconteceu. Ele fala das palavras que ouviu na sua experiência em Jope: O que Deus purificou não chames imundo (11:9). O discurso de Pedro silenciou todas as objeções. Deus tinha batizado os gentios no Espírito Santo, e este ato foi acompanhado de um sinal, o único e suficiente para ser aceito sem mais dúvidas. 
A partir desse acontecimento o Evangelho é pregado aos gentios em Antioquia. A quem diga que o Cristianismo dos dias primitivos foi uma história de duas cidades - Jerusalém e Antioquia. Após o acontecimento na casa de Cornélio, os demais apóstolos, aprovando a atitude de Pedro, contribuíram para que o Evangelho expandisse mais e mais entre os gentios, de modo que a segunda igreja cristã foi fundada a partir desse episódio. No restante do capítulo 11, a Palavra de Deus era anunciada entre os gregos em Antioquia e aconteceu que a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu (11:21).
Com  a notícia da formação de uma igreja gentílica na sua maioria, os apóstolos enviam a Barnabé para averiguar os fatos. Ele fica maravilhado em ver a mistura de judeus e gentios, e também, com os sinais e prodígios que se faziam no meio deles  (11:22,23). 
Nessa igreja um novo nome foi dado aos discípulos de Jesus. Em Antioquia eles foram chamados cristãos pela primeira vez (11:26). É interessante notar que a igreja tinha perdido contato com Saulo. Não estavam interessados no que havia acontecido com ele, mas Barnabé foi procurá-lo (11:25). Ele tinha mantido  contato com Saulo todos esses anos. Se não fosse Barnabé, ele poderia ter permanecido na obscuridade a vida toda. Juntos Saulo e Barnabé continuaram a promover a grande obra que Deus iniciara em Antioquia.  

ÁGABO, PROFETA EM ANTIOQUIA
Em Atos 11:27, nos diz que alguns profetas de Jerusalém desceram até Antioquia. E levantando-se um deles de nome Ágabo anunciou na igreja de Antioquia, que estava por vir grande  e generalizada fome sobre o mundo. Suetônio, historiador romano, confirma que no reinado do imperador Claúdio César foi assinalado que não houve safras em certos anos. Diz-nos mais o historiador Josefo que por volta do ano 46, a Palestina foi duramente castigada pela fome, e que a rainha-mãe judia, de Adiabene, no norte da Mesopotâmia, comprou trigo no Egito e figos em Chipre para acudir as necessidades dos judeus na Palestina. Nesse tempo, Saulo e Barnabé foram enviados a Jerusalém pela igreja de Antioquia, conduzindo o produto duma coleta especial que a igreja levantara para ajudar os cristãos palestinenses em sua situação angustiosa (EETAD, O Livro de Atos, pág. 85). 

“Por aquele mesmo tempo o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os maltratar; e matou à espada Tiago, irmão de João” (At. 12:1,2). Esse se constituiria o terceiro grande ataque contra os discípulos. Herodes estava sempre pronto a fazer alguma coisa contra os judeus cristãos. Ele manda matar Tiago, irmão de João. Foi o primeiro apóstolo a morrer como mártir. Morreu pela causa de Deus. Herodes vendo que sua atitude agradara aos líderes religiosos judeus, manda prender também a Pedro.  A situação parecia muito ruim. Tiago fora morto. Herodes mantinha Pedro na prisão vigiado por dezesseis soldados. Todavia a igreja permanecia em oração. E as suas orações não demoraram a ser atendidas.  Na noite anterior a sua execução, Pedro dormia tão tranqüilamente, que o anjo teve de tocar-lhe a fim de despertá-lo do sono,  e disse-lhe: Cinge-te e calça as tuas sandálias. E ele o fez. Disse-lhe mais: Cobre-te com a tua capa e segue-me (12:8). A libertação de Pedro é um dos acontecimentos mais maravilhosos que temos narrado no Novo Testamento (leia o trecho de Atos 12: 9-11). Liberto da cadeia, Pedro foi à casa de Maria, mãe de João Marcos, onde os discípulos estavam reunidos e orando.
 “Mas Pedro continuava a bater, e, quando abriram, viram-no e pasmaram. Mas ele, acenando-lhes com a mão para que se calassem, contoulhes como o Senhor o tirara da prisão, e disse: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, partiu para outro lugar” (At. 12:16,17).
Aconteceu que quando já era dia os soldados estavam alvoroçados sem saber o que tinha acontecido com Pedro. Herodes estava bastante irritado com a situação. Em Atos 12: 21,22, Herodes teve a petulância de querer ser visto pelo povo como se fosse Deus. Por causa disto, subitamente, o anjo de Deus o feriu e morreu comido por vermes.  

PAULO O MISSIONÁRIO
Estamos agora diante do missionário PAULO – homem que, diríamos, viveu intensamente o antes e o depois. Isto é, antes de Cristo e, depois de Cristo. Dois períodos—dois nomes. No seu tempo “antes de Cristo”, foi de Tarso a Damasco. Era o valente SAULO. No seu tempo “depois de Cristo”, ou, melhor dizendo, “depois com Cristo”,  foi de Damasco até Óstia (porto de Roma). Era o intrépido PAULO.  Com Paulo o Evangelho deixaria de ser um dom judaico e se tornaria um patrimônio outorgado por Deus a todos os povos. A Igreja adquiria uma visão global da vontade de Jesus que era de tornar conhecida a todas as nações, tribos, povos e línguas—a vontade salvadora de Deus (EETAD, O Livro de Ato, pág. 95) 

A partir do capítulo 13 nos é apresentada a maior etapa do desenvolvimento da Igreja. No início, o Evangelho era algo somente para os judeus, depois foi levado aos judeus gregos e helenistas, mas por último se difundiu a todos os gentios.

A primeira viagem missionária do apóstolo Paulo (cap. 13,14)
Havia chegado o tempo de iniciar a história missionária da evangelização dos gentios, indicada pelo Espírito Santo aos profetas pertencentes à igreja de Antioquia, os quais, por ordem divina separaram a Barnabé e a Saulo esta obra a que Deus os havia chamado. Obedecendo à direção divina e com o apoio da igreja de Antioquia, o apóstolo iniciou a primeira viagem missionária, por volta do ano 45 a 50. 
Barnabé, que era o mais velho, dirigia o movimento, mas Saulo, em breve, ocuparia o primeiro lugar por causa de seus dotes oratórios. Saíram de Antioquia para Selêucia, dali foram para Chipre, pátria de Barnabé. Desembarcando em Salamina, na costa de Chipre, começaram a trabalhar, como de costume, nas sinagogas. Percorreram toda a ilha até chegarem a Pafos, na costa sudoeste. 
Neste lugar despertaram a atenção de Sérgio Paulo, procônsul romano. Saiu-lhes ao encontro, com violenta oposição, um feiticeiro judeu, chamado Barjesus, também conhecido por Elimas o mago, que previamente havia conseguido a proteção do procônsul (13:6,7). Paulo resistiulhe indignado e repreendeu-o severamente, e feriu-o de cegueira. Resultou disto a conversão de Sérgio Paulo (13:8-12).
No versículo 9, do capítulo 13, Saulo é citado pela primeira vez como Paulo: “Todavia Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo (...)”. A partir desse capítulo Saulo é chamado de Paulo.   
Partindo de Chipre, o grupo de missionários de que Paulo era agora o líder, navegaram para a Ásia Menor e chegaram a Perge na Panfília. Ali, João Marcos, por motivos ignorados, deixou os seus companheiros e regressou a Jerusalém.  Os dois, Paulo e Barnabé não se detiveram em Perge, dirigiram-se para o norte, chegaram à Frígia e foram até Antioquia da Pisídia. Esta era a cidade principal da província romana de Galácia.  Entraram na sinagoga judaica, e a convite dos chefes da sinagoga, proferiu o grande discurso, registrado em Atos 13:16-41. Este discurso fomentou a odiosidade dos judeus, mas impressionou a alguns outros e ainda mais aos gentios que já estavam sob a influência da sinagoga e formavam o laço de união entre esta e o mundo gentílico para o trabalho de Paulo. No sábado seguinte deu-se o rompimento entre a sinagoga e os missionários cristãos, de modo que estes passaram a dirigir-se aos gentios. O povo da cidade, excitado pelos judeus, levantou-se contra Paulo e Barnabé e os lançaram fora (13:50).
De Antioquia passaram a Icônio, outra cidade da Frígia, onde uma copiosa multidão de judeus e de gregos se converteram à fé. Aqui também houve forte resistência  por parte dos judeus incrédulos, irritando os ânimos dos gentios contra seus irmãos. Daqui, passaram para Listra e Derbe, cidades importantes da Licaônia (14:1-6). 
Em Listra, o apóstolo Paulo curou um homem coxo desde o ventre materno. O povo, tendo visto o milagre, levantou a voz dizendo: “Estes são deuses que baixaram a nós em figura de homens; chamavam a Barnabé, Júpiter e a Paulo Mercúrio” (At. 14:11,12). A popularidade de Paulo durou pouco. Irrompeu nova perseguição, instigada pelos judeus (14:19), apedrejando-o e lançando-o fora da cidade como morto. 
Rodeando-o os discípulos, e levantando-se ele, entrou na cidade e no dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe. Seria possível aos dois missionários passar por Tarso e irem diretamente de regresso a Antioquia da Síria. Mas não quiseram voltar sem antes consolidar a existência das novas igrejas. Portanto, fizeram o caminho de volta pelas cidades antes visitadas indo de Derbe até Perge, organizando igrejas e animando os discípulos. E então retornaram a Antioquia da Síria (14:21-26). 
E assim terminou a primeira viagem missionária do apóstolo. Esta viagem compreendia todas as regiões para o lado do ocidente, já ocupadas pelo Evangelho.

O Concílio de Jerusalém (cap. 15)
Os grandes resultados da obra de Paulo entre os gentios, provocaram sérias controvérsias dentro da igreja. Certo número de cristãos, vindos  do judaísmo, foram a Jerusalém para Antioquia , ensinando ali que não poderiam ser salvos os gentios convertidos a menos que fossem primeiramente circuncidados. Alguns anos antes, Deus havia revelado à igreja por meio do apóstolo Pedro, que os gentios deviam ser recebidos na igreja sem a observância das leis de Moisés. 
Porém os fariseus restritos, convertidos ao Cristianismo (15:5), não se conformação com esta doutrina vencedora na igreja da Antioquia, de tal maneira perturbaram a consciência dos irmãos, que eles resolveram mandar Paulo e Barnabé, acompanhados de outros irmãos, a Jerusalém para consultarem os apóstolos e os anciãos sobre este assunto. 
Paulo e Barnabé mostraram à igreja mãe o que Deus havia feito por intermédio deles. Diante  da oposição dos elementos judaicos reuniu-se um concílio dos apóstolos e dos anciãos (15:6-29). 
Pedro recordou o fato da conversão de Cornélio; Paulo e Barnabé relataram os fatos que se deram em sua viagem missionária; Tiago, irmão do Senhor, fez lembrar a profecia, anunciando a vocação dos gentios. resolveram então aceitar como irmãos os conversos não circuncidados, exortando-os apenas a se absterem de certas práticas altamente ofensivas aos judeus. A vitória do apóstolo Paulo nesta questão serviu para conservar a unidade da igreja e garantir a liberdade dos gentios.
O resultado da assembléia foi uma carta explicando a decisão tomada, com o seguinte teor (At. 15:23-29):
“Aos irmãos, apóstolos e  anciãos, aos irmãos dentre os gentios em Antioquia, Síria e Cicília. Saudações!
Portanto ouvimos que alguns dentre nós, aos quais nada mandamos, vos têm perturbado com palavras, confundindo as vossas almas, pareceu-nos bem, tendo chegado a um acordo, escolher alguns homens e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos portanto Judas e Silas, os quais também por palavra vos anunciarão as mesmas coisas. Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas necessárias:  Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição; e destas coisas fareis bem de vos guardar”.  
A segunda viagem missionária do apóstolo Paulo (cap. 15:36 - 18)
Paulo e Barnabé não haviam dito aos gentios nada sobre o cumprimento da lei de Moisés. Isso como pudemos ver trouxe muitas discordância na igreja de Jerusalém. Eles apenas afirmaram aos gentios: Crê no Senhor Jesus, e serás salvo.  Após terem solucionado o problema quanto a necessidade do gentio passar pela circuncisão e aceitar as leis e cerimônias judaicas, antes de tornar-se cristão, Paulo e Barnabé concordaram em visitar novamente às igrejas estabelecidas durante a primeira viagem missionária.
Porém desta vez Paulo acha por bem que João Marcos não os acompanhe já que os havia deixado no meio da outra viagem. Este ponto acabou por trazer discórdia ente ele e Barnabé. E aconteceu que os dois acabaram se separando. Barnabé prosseguiu com João marcos para Chipre, enquanto que Paulo levando consigo Silas saiu a percorrer a Ásia Menor. 
Primeiro visitaram as igrejas da Síria e da Cilícia; depois passaram para o lado do norte, atravessaram as montanhas do Tauro e passaram às igrejas que Paulo havia fundado na sua primeira viagem. Foram a Derbe e a Listra. Nesta última cidade, Paulo encontrou Timóteo e tanto se agradou dele que o levou consigo. Timóteo veio a ser tornar fiel amigo e companheiro de Paulo nos anos seguinte. “Quando iam passando pelas cidades, entregavam aos irmãos, para serem observadas, as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e dia a dia cresciam em número” (At. 16:4,5). 
Saindo de Listra passou para Icônio e para Antioquia da Psídia. E passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. Depois partiram até Mísia e intentavam passar à Bitínia, mas foram de novo impedidos pelo Espírito Santo. E, tendo saído de Mísia, desceram a Trôade. Essa cidade ficava perto da antiga Tróia. Em Trôade, Paulo teve a visão com o varão que o rogava: “Passa à Macedônia e ajuda-nos” (16:9).  Obedecendo a esse chamado, os missionários juntamente com Lucas, dirigem-se para a Europa e desembarcando em Neápolis, seguem logo para a importante cidade de Filipos (16:11-40). 
Aqui fundaram uma igreja, que sempre foi cara ao coração de Paulo. Aqui também, pela primeira vez, entrou em conflito com os magistrados romanos, servindo-se então dos seus direitos de cidadão romano em favor de seu trabalho. 
A primeira pessoa convertida nessa cidade foi Lídia, negociante de púrpura, vinda de Tiatira. Possivelmente foi ela a organizadora da igreja naquela cidade. Filipos foi a primeira igreja fundada  por Paulo na Europa, uma das suas igrejas mais fiéis, talvez a única, da qual recebeu ajuda pelos seus trabalhos. Não podemos nos esquecer que foi ainda na cidade de Filipos que se deu a dramática conversão do carcereiro (16:27-40). 
De Filipos, onde Lucas ficou, Paulo e Silas e Timóteo foram para a maior cidade da Macedônia, Tessalônica. A deficiência de informaçòes sobre o trabalho neste lugar (At. 17:1-9), é suprida pelas alusões que a ele fazem as duas epístolas àquela igreja.  Eles alcançaram grandes resultados entre os gentios e lançaram com grande cuidado os alicerces da igreja. Mas alguns judeus desobedientes e religiosos, movidos de inveja, os acusaram de “alvoroçar o mundo”, elogio que não foi pequeno à magnitude de sua obra. De Tessalônica, seguiram para Beréia, onde tiveram um ministério bem aceito. Deste lugar, após valiosos resultados até mesmo dentro da sinagoga, seguiram para Atenas (At. 17:15-34). 
Atenas durante mil anos (500 a.C.- 500 d.C), foi o centro da filosofia, da literatura, da ciência,  da arte;  a sede da maior universidade do mundo. Atenas era regida por um conselho denominado Aerópago. Esse conselho tinha também autoridade sobre tudo o que era ensinado. Atenas era uma cidade religiosa - suas ruas eram cheias de ídolos, altares e templos. A estada do apóstolo nesta cidade foi sem resultados. O que de mais importante se deu foi o brilhante discurso por Paulo proferido no Aerópago em presença de filósofos gregos, no qual o apóstolo fez apreciações sobre as verdades que o Evangelho continha.  

 
O DISCURSO DE PAULO
No Aerópago, Paulo disputara com os adeptos das duas mais ilustre escolas de Atenas formadas pelos estóicos e epicureus. O seu discurso perante aquele grupo de pessoas começou com uma referência ao DEUS DESCONHECIDO: “passando eu e observando os objetos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio” (At. 17:23). Paulo declarou, pois, que a sua missão era tornar conhecido esse Deus que todos os atenienses adoravam sem conhecê-lo. E prossegui conclamando todos a se arrependerem, porquanto Deus tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos  (17:31). Os ouvintes, que até então haviam se mostrado interessados nas palavras de Paulo, passam a discordar com ele, pois tinha mencionado “ressurreição”. Passaram a escarnecer e zombar do que Paulo dizia. A imortalidade da alma era um ponto comum entre eles, mas a ressurreição do corpo era tão absurda quanto indesejável  (EETAD, O Livro de Atos, pág. 105,106). 

Dali, Paulo segue para Corinto, uma das principais cidades do Império Romano, onde se deteve por dezoito meses e fundou uma forte igreja (At. 18:1-18). Travou também relações com um casal de judeus, Áqüila e Priscila e hospedou-se em sua casa. A princípio pregava na sinagoga, depois, por causa da oposição dos judeus, passou a pregar em casa de um homem chamado Tito Justo, que servia a Deus, próxima a sinagoga. E muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados (v. 8). Merece destaque a conversão de Crispo, principal da sinagoga, juntamente com toda a sua família.  De Corinto escreveu as epístolas aos Tessalonicenses com o propósito de advertir os irmãos contra certas doutrinas e práticas nocivas que ameaçavam a igreja. As hostilidades dos judeus continuavam. Então os judeus levantaramse contra Paulo e o acusaram de violar a lei diante do procônsul da Acaia, Gálio. O procônsul decidiu que a questão devia ser resolvida pelo líderes da sinagoga e que o Paulo não havia violado lei alguma que exigisse a sua intervenção. Nesta época, o império romano defendia os cristãos das violências dos judeus, deste modo eles podiam continuar o trabalho sem embaraço. 

UM CERTO JUDEU CHAMADO APOLO (AT. 18:24,25)
Chegou a Éfeso, Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras. Era ele instruído no caminho do Senhor e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão as coisas concernentes a Jesus, conhecendo entretanto somente o batismo de João. Apolo estava despertando o interesse na sinagoga de Éfeso, com palavras de grande poder. Como ele conhecia o batismo de João, Áqüila e Priscila, apressaram-se por ensinar-lhe o caminho do Senhor, conforme os ensinos que haviam recebido de Paulo. Devidamente preparado, Apolo decidiu seguir para a Grécia, mas os irmãos recomendaram-no à igreja de Corinto. Seu trabalho foi de tão grande proveito para aquela igreja que Paulo mais tarde escreveu: “Eu plantei, Apolo regou”(I Co. 3:6). Estas palavras de Paulo foram escritas em razão dos partidos que estavam se formando no seio da igreja de Corinto, em torno das pessoas de Paulo e Apolo (EETAD, O Livro de Atos, pág. 108). 

De Corinto vai para Éfeso, onde não se demorou. Éfeso, na época era a metrópole da Ásia Menor. Ficava à margem da estrada imperial que ia de Roma para o Oriente, sede do culto a deusa Diana.  Segue então para Cesaréia e daí apressadamente para Jerusalém. Havendo saudado a igreja mãe, voltou a Antioquia de onde havia partido. Assim terminou ele a segunda viagem missionária de que resultou o estabelecimento do Cristianismo na Europa. A Macedônia e a Acaia estavam evangelizadas. O Evangelho havia dado grande passo para a conquista do império romano.   




A TERCEIRA VIAGEM DE PAULO



Paulo, o prisioneiro do  Senhor (Cap. 19 A 28)
 O apóstolo Paulo tinha como meta principal evangelizar os povos gentílicos. As perseguições sofridas em sua primeira e segunda viagens  missionárias não o desestimularam, pelo contrário, ele estava disposto a enfrentar todas as dificuldades. Chega então, o momento do apóstolo empreender sua terceira viagem missionária. Depois de algum tempo em Antioquia da Síria, talvez no ano 54, Paulo deu início à sua terceira viagem. Primeiro atravessou a região da Galácia e da Frígia a fim de estabelecer os discípulos, depois partiu para Éfeso. Parece que a anterior proibição de pregar o Evangelho na Ásia, havia sido removida.
Éfeso era a capital da Ásia e uma das cidades de maior influência no oriente. Ela era talvez, com exceção de Roma,  a maior cidade do mundo e a mais cosmopolita. Paulo gastou três anos de seu ministério nesta cidade. Éfeso era famoso por seu luxo, por sua licenciosidade e pelo culto da deusa Diana. Os anos que o apóstolo passou nesta região têm muita coisa interessante. Uma dos acontecimentos marcantes foram os convertidos entusiastas que queimaram seus livros de artes mágicas e jogaram fora os ídolos de prata. Houve uma grande fogueira em Éfeso. Bênçãos como essas não podiam ficar por muito tempo sem oposição. Se lermos o capítulo 19 até o fim, veremos os resultados do trabalho de Paulo. Os artífices de prata fizeram um alvoroço e os apóstolos foram salvos graças à intervenção das autoridades locais.
Em suas viagens, Paulo escrevia suas maravilhosas cartas; hoje as lemos com grande proveito e interesse. De Éfeso ele mandou sua primeira carta aos Coríntios. Depois de outros lugares, escreveu as cartas de Gálatas, de Romanos e a segunda aos Coríntios.
Lucas deixa claro neste capítulo, que Éfeso já tinha sido alcançada pelo Evangelho antes de Paulo chegar. Ele registra  nos primeiros sete versículos do capítulo 19, o encontro de Paulo com uns doze discípulos de João Batista em Éfeso. Eles haviam aceito a mensagem pregada por João, tinham se arrependido e sido batizados em água. Ao que parece eles ainda esperavam a chegada do Messias. Depois de terem ouvido a respeito de Jesus por meio de Paulo, creram e nasceram de novo pelo Espírito.
Durante três meses Paulo ensinou na sinagoga e depois durante dois anos ensinou na escola de Tirano. Era a sala de aula de um filósofo, uma pequena sala de aula de onde Paulo abalou a cidade até os alicerces.  O seu trabalho nesta cidade notabilizou-se pela riqueza de instrução, pela operação de portentosos milagres e pelos resultados obtidos, porque todos que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor e até mesmo alguns dos principais da Ásia eram seus amigos. O trabalho desempenhado também se notabilizou pelo tamanho cuidado que tinha de todas as igrejas. Mas, como sempre, foi marcado também pela constante e feroz persegui ção contra o seu ministério. Este período da vida do apóstolo é rico em incidentes. Muitas cousas se deram que não se encontram em Atos.  

RAZÕES DA OPERAÇÃO DE DEUS EM ÉFESO
Esses milagres especiais foram concedidos com os seguintes propósitos: (1) Derrotar Satanás. Na região de Éfeso havia uma fortaleza do poder do diabo; (2) Desmascarar embusteiros. Haviam mágicos que se diziam possuidores de poderes sobrenaturais para operar maravilhas e milagres entre o povo; (3) Propagar o Evangelho. Paulo era desconhecido naquela cidade de modo que, se não houvesse uma operação sobrenatural do poder de Deus confirmando suas declarações, ele seria facilmente confundido com os inúmeros mestres de religião, filósofos ou importadores de seitas que perambulavam pelas ruas de Éfeso; (4) Libertar os prisioneiros de Satanás. Este tipo de ministério possibilitou a Paulo exercer seu ministério de cura entre as pessoas que não podiam estar presentes nas reuniões, e entre aqueles que estavam em cidades distantes. O resultado da grande operaçào divina através de Paulo em Éfeso, foi que muitos daqueles que tinham estreitos laços com a magia, se converteram a Cristo de forma tão completa, que duma só vez queimaram livros, relacionados ao antigo modo de vida e de um grande valor  monetário (EETAD, O Livro de Atos, pág. 115).




De Éfeso através da Macedônia, Paulo chegou a Corinto, na Grécia (At. 20:1-3), no inverno do ano 57-58. Durante a sua estada, completou o serviço de organização e regulou a disciplina da igreja. Sua visita a Corinto foi memorável  pois foi a ocasião em que escreveu a epístola aos romanos, em que expôs com toda clareza a doutrina referente à salvação da alma. Agora  inicia a sua última viagem a Jerusalém, acompanhado de amigos, representantes das várias igrejas dos gentios (20:4). O trabalho de Paulo entre gentios sofreu grande oposição da parte dos judeus e até mesmo de cristãos vindos do judaísmo que tentavam desprestigiá-lo. Resultou daí o plano de provar a lealdade das igrejas dos gentios, induzindoas a enviar ofertas liberais aos pobres da Judéia. Foi para este fim que ele e seus amigos saíram de Corinto com destino a Jerusalém. O seu primitivo plano era de navegar diretamente para a Síria, mas uma conspiração dos judeus, o obrigou a voltar pela Macedônia. Demorou-se em Filipos enquanto que seus companheiros caminhavam para Trôade. Depois da festa da Páscoa ele e Lucas foram para Trôade, onde os companheiros o esperavam e onde se demoraram por sete dias. Havia lá uma igreja. Lucas dá-nos interessante notícia do que se passou nas vésperas da partida do apóstolo. Paulo estava pregando um longo sermão quando por volta da meia-noite deu-se o fatal incidente com um jovem chamado Êutico (20:7-12).
De Trôade caminhou Paulo para Assôs que ficava distante cerca de vinte milhas, para onde haviam embarcado seus companheiros. Deste porto, navegaram para Mitilene que ficava na costa oriental da ilha de Lesbos, e costeando pela banda do sul, passaram entre a terra firme e a ilha de Quios; no dia seguinte aportaram em Samos e no outro, chegaram a Mileto. Esta cidade estava a 36 milhas de Éfeso, e, como Paulo tivesse pressa, resolveu não ir lá, e, por isso, mandou chamar os presbíteros da igreja. Em Mileto fez as suas despedidas de modo muito emocionante (20: 17-38). Não havia  palavras capazes de exprimir mais vivamente a dedicação pela sua obra e o amor que votava a seus irmãos convertidos. 
“E, agora, eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá” (20:22). Sob a unção do Espírito Santo, Paulo prosseguia de vitória em vitória. Ele sabia o que lhe aguardava, por isso disse: “o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações” (20:23). “Havendo dito isto, pôs-se de joelhos, e orou com todos eles. E levantou-se um grande pranto entre todos, e lançando-se ao pescoço de Paulo, beijavam-no. Entristecendo-se principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E eles o acompanharam até o navio” (At. 20:36-38).
Partindo de Mileto, o navio seguiu diretamente a Cós (At. 21:1); no dia seguinte chegaram a Rodes; de Rodes passaram a Pátara, nas costas da Lícia. Achando um navio que ia para Fenícia, entraram nele, e partiram. Depois de estarem à vista de Chipre deixando-a à esquerda, chegaram a Tiro, onde demoraram sete dias.  Inspirados pelo Espírito Santo, os discípulos instavam com Paulo para não ir a Jerusalém. Depois de uma afetuosa despedida partiram para Ptolemaida, que hoje se chama Acre e no dia seguinte chegaram a Cesaréia. Encontram Filipe, o evangelista, novamente e Paulo hospeda-se em sua casa (21:8). Aqui também o profeta Ágabo, tomando a cinta de Paulo, atando-se os seus próprios pés e mãos, disse: “Assim os judeus ligarão em Jerusalém o homem a quem pertence esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios” (21:11b). A despeito destas alarmantes predições e das lágrimas dos irmãos, ele seguiu viagem, acompanhado de alguns de seus discípulos.  
Com sua chegada a Jerusalém  (21:17), finda-se a terceira viagem missionária do apóstolo Paulo. Em breve se cumpririam as palavras de Ágabo. Em Jerusalém Paulo foi cordialmente recebido pelos cristãos. Por outro lado, ele foi informado de que os crentes judeus continuavam fiéis à Lei, ainda que não obrigassem os gentios a acompanhá-los. No dia seguinte à sua chegada, foi à casa de Tiago, irmão do Senhor, onde se haviam congregado os anciãos, aos quais contou todas as cousas, que Deus tinha feito entre os gentios por seu ministério. Ouvindo isto, engrandeceram a Deus. Ao mesmo tempo disseram-lhes irmãos que muitos dos judeus que estavam entre os gentios, haviam dado más notícias a seu respeito, que punham  em dúvida a sua fidelidade às Leis de Moisés. Era necessário, pois, que ele desse provas visíveis que o justificassem. Aconselharam-no a que tomasse consigo a quatro varões que tinham voto sobre si, que os levasse ao templo, que se santificasse com eles e fizesse o pagamento das despesas que envolviam a cerimônia. A isto Paulo acedeu de bom grado porque era seu desejo agradar os judeus (At. 21:23-26). 
Mas tudo isso não surtiu efeito. Certos judeus da Ásia o viram no templo e o acusaram de haver introduzido gentios no templo, então lançaram mão de Paulo e tumultuaram o ambiente. O povo arrastou Paulo para fora do templo e o teriam assassinado, se o tribuno Cláudio Lísias não tivesse corrido para o lugar do conflito, arrebatando Paulo das mãos do povo, levou-o para a prisão. Paulo, com permissão do tribuno, pondo-se em pé sobre os degraus da fortaleza, fez sinal ao povo com a mão, para falar (22: 1:21). Concedida a oportunidade, Paulo contou que era judeu de Tarso, o que ele fez na língua hebraica. Ele fez um resumo da sua vida, do seu nascimento, formação, religião, conversão, até ao ponto em que falou que foi comissionado a evangelizar os gentios, quando de novo o povo rompeu em gritos para que o matassem. 
Neste ponto tribuno o mandou recolher à prisão, e que o açoitassem e lhe dessem tormento. Tendo-o atado com muitas correias, disse Paulo a um centurião: “É-vos lícito açoitar um cidadão romano, sem ser ele condenado?” (22:25). Sabendo disto, Lísias, o mandou desatar, ordenando que o conselho dos  sacerdotes tomasse conhecimento do caso. O comparecimento de Paulo perante o conselho provocou novo tumulto (23:1-10). O apóstolo estava agora defendendo a vida, não podia esperar justiça. Se fosse condenado, o tribuno Lísias entregá-lo-ia para ser executado. Co muita habilidade dividiu a opinião de seus inimigos; dizendo que professava ser fariseu, e queriam condená-lo por pregar a ressurreição dos mortos. O ódio entre fariseus e saduceus era mais forte do que os dois juntos contra Paulo. As duas seitas tomaram oposições opostas. O tribuno, receando que Paulo fosse trucidado entre as duas facções, mandou que os soldados o arrebatassem das mãos da multidão e o metessem na prisão.


 
AS ACUSAÇÕES CONTRA PAULO
As queixas contra Paulo eram de natureza política e religiosa: Paulo era, segundo o conceito dos judeus, “uma peste”, criador de dissensões entre os próprios judeus de todo o mundo e o cabeça da seita dos nazarenos (24:5). Também foi acusado de profanar o templo, por ter introduzido gentios nele. A acusação de ser um tumultuador e sedicioso era a mais grave que se podia apresentar a um tribunal romano, e a esperança de ver Paulo condenado os levou a frisar mais o aspecto político do que o religioso. Quando usaram a palavra “seita” no versículo 5, foi para descrever Paulo como uma pessoa de má fama, já que esse termo no grego significa originalmente “partido”, por isso ele foi empregado. Ao Cristianismo ainda não se havia concedido direitos de religião lícita dentro do Império Romano, e por isso o judaísmo podia julgá-lo como seita, infiel e ilegal (EETAD, O Livro de Atos, pág. 131).

Naquela noite, o Senhor apareceu a Paulo em visão dizendo-lhe: “Tem bom ânimo: porque, como deste testemunho de mim em Jerusalém, assim importa que o dês também em Roma” (23:11). O tribuno ficou sabendo que havia uma conspiração para exterminar com Paulo, então mandou que o levassem para Cesaréia, com uma carta ao procurador romano da Judéia, Félix, para que ele resolvesse o caso (23:12-33). Quando Félix soube que o acusado  era da Cilícia, determinou que se esperasse a vinda dos acusadores. Entretanto, conservou-o em segurança no palácio de Herodes, que servia de pretório, ou residência do procurador. 
Cinco dias depois, uma delegação do Sinédrio de Jerusalém, tendo o sumo sacerdote Ananias à frente, chegou em Cesaréia (24:1-9). Foi junto com a delegação, Tértulo, uma espécie de advogado,. Foi apresentar acusação contra Paulo. Começou com um discurso num estilo pomposo, mas foi se degenerando até não dar em nada.    
A isto, Paulo respondeu com formal negação, apelando o para o testemunho de seus acusadores (24:10-21). Paulo respondeu  a cada uma das três acusaçòes, a saber: a de ser um agitador, a de ser líder de uma seita, e a de haver tentado profanar o templo. Negou ter perturbado a paz em Jerusalém, pois ali foi para adorar e trazer ao seu povo esmolas e ofertas. O Sinédrio viu-se impossibilitado de acusá-lo de qualquer coisa, a não ser do ponto de vista teológico sobre a ressurreição.
Félix estava perfeitamente informado, e sabia que Paulo não havia cometido nenhum crime que merecesse a morte. Despediu os acusadores adiando o julgamento para quando chegasse o tribuno Lísias. E mandou a um centurião que o tivesse em custódia sem tanto aperto e sem proibir que os seus o servissem. Passados alguns dias, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo e esteve ouvindo falar da fé que há em Jesus Cristo (24:24). O apóstolo parece ter exercido estranha fascinação sobre o procurador que tremeu em sua presença, prometendo ouvi-lo de novo quando tivesse tempo. Ele também esperava que Paulo lhe desse algum dinheiro em troca de sua liberdade (24:25,26). O apóstolo não quis subornar o procurador, que adiou o julgamento. Dois anos depois, veio Pórcio Festo substituí-lo no governo, e Paulo ainda estava na prisão. Os judeus esperavam que o governador lhes fosse mais favorável do que tinha sido Félix.. Festo vai até a Jerusalém a fim de encontra-se com o sumo sacerdote e o Sinédrio, para saber das acusações que haviam contra Paulo (25:1-6). Festo recusa-se a enviar Paulo a Jerusalém para ser julgado, e convida-os para descerem a Cesaréia para apresentar as queixas contra ele. Assim fizeram depois de alguns dias. Ainda desta vez nada puderam provar. Paulo continuava confirmando a sua inocência. Festo, querendo agradar aos judeus, perguntou a Paulo se queria ser julgado em Jerusalém,. Sabendo que a sua vida corria perigo, serviuse de seus privilégios de cidadão romano e apelou para César (25:9-11).  Por este modo o julgamento escapou das mãos do procurador, e o prisioneiro tinha de ser remetido a Roma. 
Antes da saída de Paulo, Agripa II e sua irmã Berenice vieram visitar Festo. O novo procurador que não era muito versado em controvérsias judaicas, e como tinha de enviar ao imperador um relatório de informações sobre o caso, contou a Agripa sobre Paulo. Por sua vez, o rei mostrou desejos de saber o que o prisioneiro dizia em sua defesa. Agripa era versado em casos de doutrina e poderia servir para instruir o relatório que o procurador tinha de mandar para Roma (25:13-27). 
A defesa de Paulo perante o rei Agripa, é um dos seus mais notáveis discursos. Nele revela as qualidades de homem de elevada educação, a eloqüência de orador e firmeza de cristão. Fala sobre o seu passado afim de provar que em todos os seus atos procurou sempre servir a Deus, e que a sua carreira como cristão, não só obedecia a direção divina, como ao cumprimento das profecias (26: 1-23). Quando Festo o interrompeu, exclamando: “Tu está louco, Paulo! As muitas letras de fazem delirar!” (26:24).  Paulo vira-se para o rei e diz: “Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês”. (26:27). O rei estava disposto a ser simples observador e crítico do que ele julgava ser um novo fanatismo, e respondeu com uma frase de desprezo: “Por um pouco me persuades  a me fazer cristão!” (26:28). Contudo estava convencido que Paulo não tinha crime e que poderia ser posto em liberdade se não tivesse apelado para César (26: 31,32).
No outono do ano 60, Paulo foi enviado para Roma, confiado juntamente com outros presos ao cuidado de um centurião chamado Júlio, da corte Augusta. Lucas foi seu companheiro juntamente com Aristarco de Tessalônica (27: 1,2). Lucas é quem dá o relatório desta viagem com minúcias muito particulares e de admirável exatidão. O apóstolo foi tratado com muita cortesia pelo centurião. Embarcando em um navio de Adrumete, chegaram a Sidom, donde partiram para Mirra na Lícia. E achando ali o centurião um navio de Alexandria que fazia viagem para a Itália, embarcaram nele. 

Os ventos não eram favoráveis, e por isso foram obrigados a navegar lentamente e apenas puderam avistar a Cnido na costa da Cária. Tomando o rumo sul, foram costeando a ilha de Creta, junto a Salmona; navegando com dificuldade ao longo da costa, abordaram em Bons Portos, para um breve descanso (27:3-8).
 O tempo apresentava-se ameaçador, então Paulo mostra a inconveniência de se continuar a viagem. Paulo, por uma revelação especial de Deus disse ao comandante e a tripulação: “Senhores, vejo que a viagem vai ser com avaria e muita perda não só para a carga e o navio, mas também para as nossas vidas” (27:10). Mas o centurião deu mais crédito ao mestre e ao piloto do navio que eram de parecer contrário e desejavam chegar a Fênix e invernar ali no porto de Creta, onde havia bom ancoradas; e, como Paulo havia dito, nenhum deles pereceu (27:41-44).  

 
O CUIDADO DE DEUS
Segundo a lei romana, se os presos escapassem os soldados que estavam de guarda desses presos, deveriam ser mortos; por isso, neste texto (27: 42)os soldados cheios de temor, alarmados ante a iminência de uma fuga, pretenderam matar todos os presos. No entanto o centurião Júlio, que tratava Paulo com certa consideração, não concordou com essa idéia. Assim, ninguém foi morto. Por causa de Paulo, os soldados foram impedidos de executarem seu intento. Todos chegaram em terra firme, a promessa do Senhor, de que ninguém morreria, acabava de se cumprir. (EETAD, O livro de Atos, pág. 148, 149). 



ENFERMOS SÃO CURADOS EM MALTA (AT. 7-9)
Paulo sempre aproveitava as oportunidades para desempenhar seu ministério. Durante os três meses que ali permaneceu, Paulo procurou atender às necessidades do povo nativo. Lucas diz que ele foi recebido na propriedade de Públio, o principal homem da ilha. Seu pai estava gravemente enfermo. E Paulo orou e o homem ficou curado, bem como todos os doentes da ilha que por ele procuraram. Paulo não deixava passar a oportunidade de proclamar o Evangelho. (EETAD, O Livro de Atos, pág. 151).



    
Nesta emocionante aventura, que Lucas descreve com tanta minúcia, o proceder de Paulo ilustra muito bem a coragem de um cristão e a influência que um homem de fé pode exercer sobre os outros indivíduos, em tempos de perigo. A terra a que haviam chegado era a ilha de Melita que hoje se chama Malta situada ao sul da Sicília, cujos habitantes receberam os náufragos com muita cordialidade. Por causa da chuva e do frio os nativos da ilha, acenderam uma grande fogueira e havendo Paulo ajuntado uma grande quantidade de vides e pondo-as no fogo, uma víbora, fugindo do calor lhe acometeu a mão (28:3).Quando viram a víbora dependurada na mão de Paulo, acharam que “a justiça divina” não lhe permitiria escapar da morte. Entretanto, ao verem-no lançar a víbora ao fogo, sem que qualquer mal lhe atingisse, passaram os nativos a uma outra conclusão, que Paulo seria um deus (28:6). 

O procedimento maravilhoso de Paulo ganhou  para ele muita honra e simpatia (28:10). Três meses depois, embarcaram em um navio de Alexandria que tinha invernado na ilha, no qual chegaram a Siracusa, onde ficaram três dias. De lá, correndo a costa, foram a Régio, e dois dias mais, aportaram em Potéoli, a sudoeste da Itália.  Ali, Paulo encontrou irmãos em cuja companhia se demorou sete dias (28:11-14). Entretanto a notícia chegou a Roma. Os irmãos vieram encontrá-lo à Praça de Ápio e às Três Vendas, nomes de dois lugares distantes de Roma. 
O centurião entregou os prisioneiros ao capitão da guarda, que era o prefeito da guarda pretoriana. Paulo ficou sob a guarda de um soldado com licença de habitar onde quisesse (28:16). As apelações para César eram atendidas com muita morosidade. Paulo tinha o desejo de pregar em Roma, e era da vontade de Deus que ele assim o fizesse. Embora Paulo fosse fiel, Deus não o proveu de um caminho fácil e livre de problemas. Passados três dias, Paulo convocou os principais dos judeus para informá-los dos motivos de sua prisão, designou um dia para dar testemunho do Reino de Deus, tentando convencê-los a respeito de Jesus, pela lei de Moisés e pelos profetas, desde a manhã até a tarde. Como não o quisesse crer, declarou mais uma vez que aos gentios era enviada esta salvação. A prisão não o impedia de exercer a sua atividade missionária (28:17-31). As epístolas que ele escreveu neste período, iluminam mais de perto esta fase de sua história: são as epístolas aos Colossenses, a Filemon, aos Efésios e aos Filipenses. O livro de Atos termina deixando Paulo na prisão em Roma. 
Mas a história nos conta que, em 63 d.C., aproximadamente, Paulo foi absolvido e solto. Durante uns poucos anos continuou seus trabalhos missionários, e talvez tenha ido até à Espanha, conforme planejara. Durante esse período, escreveu  Primeiro Timóteo e Tito. Foi preso de novo cerca de 67 d. C., e levado de volta a Roma. Segundo Timóteo foi escrito durante esse segundo encarceramento em Roma. A prisão de Paulo só terminou ao ser ele decapitado, sofrendo o martírio sob as ordens do imperador romano Nero.



BIBLIOGRAFIA:


Bíblia de Estudo Pentecostal
Dicionário da Bíblia. John D. Davis. 
O Livro de Atos. EETAD.
Estudo Panorâmico da Bíblia. Henritta C. Mears .
Apostila: O livro de Atos - Comunidade Cristã Jesus Para o Mundo.



Artigo transcrito de bibliografias citadas acima pelo Ap. João Campos.